sábado, 23 de junho de 2012

FAINA alexandrina













Transborda a maré alta, é hora de arribar!
No cais da Arribação a Lua é o farol;
Mais forte bate o peito, a voz não quer falar...
Há redes e um puçá; não há lugar pra anzol!

Nas ondas desse mar, na luz do arrebol,
A vela içada e cheia é a força a navegar!
Depois de uma semana, é hora de voltar...
A pele ardente e seca esturricada ao sol

Já pede um aconchego... A vida continua...
No balanço do mar, revezam Sol e Lua...
No peito, é a saudade a reclamar o chão...

É o pescador do mar, em vida que flutua...
Na solitária faina, enquanto perpetua
Tão árduo e milenar, sofrido ganha-pão!



(2º Hemistíquio)

É hora de arribar!
A Lua é o farol;
A voz não quer falar...
Não há lugar pra anzol!

Na luz do arrebol,
É a força a navegar!
É hora de voltar...
Esturricada ao sol

A vida continua...
Revezam Sol e Luz...
A reclamar o chão...

Em vida que flutua...
Enquanto perpetua
Sofrido ganha-pão!

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

HERANÇA MEDIEVAL


No cavado da história vejo a imagem...
Há vestes coloridas, outras pardas...
Não há vestígios claros de uma aragem...
Só lanças e couraças como guardas!

Figuras protegidas pelas fardas
E o medo que se esconde na linguagem...
Vislumbro uma atmosfera em que a paisagem
É triste aqui e ali e a muitas jardas...

É o tempo medieval do cavaleiro
Vivido a duras penas, sem valor!
– Herança inda ficou, mudou o roteiro;

Tem outro nome a casta e o senhor!
Mudou-se a imagem, roupas, o dinheiro...
Herdamos a arrogância do “Feitor”!

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

ANITA













Anita andava solta na floresta...
Era u’a floresta feita de papel...
Anita deslumbrava-se na festa,
No vento que zoava qual tropel!

Sentou-se a pintar com seu pincel
Em uma tela simples e modesta...
Lá do alto o Sol mandava numa fresta
Doirados beijos, puros, de um donzel!

Anita, seduzida, foi-se embora...
Deixou meu coração que ainda chora
Perdido na floresta de papel...

Não há réstia de luz, nem sol lá fora...
Ficou o pincel e a tela onde, agora,
Descrevo no meu verso a dor cruel!

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terça-feira, 5 de junho de 2012

CERNE


Diz-nos de si no cerne da obsessão
A força inconsciente que transcende!...
Mistura-se ao chorume em parco chão,
Enquanto u’a chama nova se acende!

Do seio recrudesce e em grito estende
O impulso de alcançar com sua mão...
Beijam-lhe mimos falsos de um senão,
Cai no ilusório sim que não entende!

Invólucros do bem chegam da messe
Na grande e larga estrada que oferece
As flores que perfumes não contêm!

Fica a ilusão do que inda peço em prece,
Se é que minh’alma um pouco inda merece,
Ao fim da prece... Quando digo amém!

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domingo, 3 de junho de 2012

NOBRE NATUREZA


Brada de longe a serra em chuva forte
No reboar distante do trovão!
É a natureza plena sem recorte
Complexo existir em plena ação!

Brada no peito em nós o coração
A encher de amor e vida nosso norte!
É a natureza em nós tão viva e forte
Num belo coexistir sem ambição!

Se um dia te cansares sem motivo,
Se um dia tu buscares lenitivo,
Olha em torno de ti a natureza...

Em meio à tempestade – tudo ao vivo,
Sequer há mal que fique no seu crivo,
Pois que não há rancor em sua nobreza!

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